terça-feira, 24 de maio de 2011

Dia 28



Letras favoritas em uma música:

Chico é meu compositor favorito, e Construção é fantástica. Todos os versos são dodecassílabos e terminam em proparoxítonas. Nas partes seguintes, a ordem das palavras finais é alterada. E aqui reside a maravilha da música: para além de "mera" forma/estrutura, a canção narra o cotidiano de um trabalhador que paulatinamente caminha para a repetição sem vida, como uma máquina, agindo com lógica, até sua morte, irrelevante, atrapalhando o tráfego e o público num sábado. Mas eu prefiro esta aqui:



Não adianta. Parte da graça de Construção é um mundo alheio ao meu. Por mais que eu saiba o que são rimas alexandrinas, versos e poesia nunca foram a minha praia. E em Meu caro amigo, Chico é mais ele mesmo: crítico, inteligente e brincalhão. E a estrutura da música também é legal: em formato de missiva a alguém que está alhures - exilado político, talvez? - com notícias do nosso país. E o bacana é a repetição incansável da estrofe:

aqui na terra tão jogando futebol
tem muito samba, muito choro e rock'n'nroll [ou roquenról, como ele canta]
uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero lhe dizer é que a coisa aqui tá preta

Outras letras bacanas:
Stephen Malkmus - The Hook (o vocalista do Pavement adora contar histórias em suas músicas, e esta aqui é uma das mais legais - conta a história de um jovem sequestrado por piratas na véspera de seu casamento, e de sua eventual integração ao mundo marítimo... bem, no fim das contas não achei nenhuma vídeo bom da música, e upei Jenny and the Ess-Dog, que conta a vida de um casal, ela mais nova e riquinha, ele meia idade, filho de um representante da coca-cola e que tem numa banda);
Blur - Tender (a letra é bem simples, mas cheia de emoção. O vocalista escreveu esta música quando tomou um pé na bunda de sua namorada, a vocalista do Elastica. O vídeo tá podre, mas eu assisti a este show na TV e a participação da galera é de arrepiar).

2 comentários:

  1. Escolha certeira. Chico Buarque como letrista não tem muitos rivais. Desta vez, você ficou do lado mais "conservador", no campo dos consagrados.

    Gosto muito dessa música, e de historias cantadas por meio delas...

    Dei uma googlada sobre ela e olha o que achei:

    "Uma das canções de Chico Buarque é uma carta em forma de música - uma carta musicada que ele fez em homenagem a Boal, que vivia no exílio em Lisboa, quando o Brasil estava sob a ditadura militar. A canção Meu Caro Amigo, dirigida a ele, foi gravada originalmente no disco Meus Caros Amigos 1976."

    O sujeito em questão é Augusto Boal, o criador do Teatro do Oprimido, e amido "de verdade" do Chico. http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Boal

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  2. Bacana, não sabia disso - talvez eu devesse ter dado uma googlada nela.

    É verdade, foi uma escolha conservadora. Exatamento por isso fico aguardando a sua. Quero ver o caminho que você vai tomar.

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