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Este post deveria ter sido publicado na sexta-feira, dia 13/05, mas devido a pane do blogger ele só vai ao ar hoje, sob protestos. E o rascunho que havia sido salvo nem retornou por inteiro. Só a introdução.
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É, passamos da metade do desafio. Hoje é o dia de musica que arrepia. Para mim, é uma que começa assim:
São Paulo, dia 1° de outubro de 1992. Oito horas da manhã.
Apenas uma voz solitária e mais nada. Solene. Pungente. O que vai contar é algo sério.
Aqui estou mais um dia, sob o olhar sanguinário do vigia.
O narrador não precisa se apresentar. Só sua condição. Está preso há tanto tempo que não importa mais. O tempo, a propósito, é um personagem da história.
Acendo um cigarro e vejo o dia passar. Mato o tempo para ele não me matar.
Mano Brown sabe lidar com a língua. Sua narrativa é simples, direta mas ao mesmo tempo sofisticada.
Ladrão sangue bom tem moral na quebrada. Mas pro Estado é só um número, mais nada. Nove pavilhões, sete mil homens. Que custam trezentos reais por mês, cada.
A história do "Diário de um detento" sempre me impressionou. O narrador que conta essa história em forma de musica me convence absolutamente que participou dos fatos. É perfeitamente aceitável para mim que o Mano Brown possa ter participado do massacre do Carandiru. Isso demonstra o poder da narrativa, já ao que me consta é uma ficção, "baseada em fatos reais". A história do massacre contada no terço final da música tem muito mais veracidade para mim por exemplo que o próprio "Estação Carandiru" de Drauzio Varela.
Já ouviu falar de Lúcifer? Que veio do inferno com moral, um dia. No Carandiru, ele é só mais um, comendo rango azedo e com pneumonia.
Racionais MC's foram para mim a glória e a desgraça do rap nacional. Glória por que o imenso sucesso do disco "Sobrevivendo no Inferno" foram o ápice deste genero no Brasil. Letras inspiradas e musicas fortes. Vendeu mais de um milhão de cópias. Porem, por outro lado, todos os grupos de menor talento foram atraidos por sua orbita e direcionaram seus estilos para meros pastiches de Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue e KL Jay. São incontáveis os discos de rap que possuem ao menos um trecho de musicas dos Racionais. Essa foi a desgraça. Quando isso ocorre, o genero tende a cair no ostracismo. E foi o que aconteceu. O rap nacional está praticamente morto. O funk carioca virou a música das "quebradas".
Adolf Hitler sorri no inferno!
Essa música me arrepia, definitivamente.
Melhor post do desafio! Boa defesa do Racionais, e Mano Brown faz rimas muito boas - mas para todos aqueles que estão falando mal das escolhas do MEC, ele é mais um tosco que não sabe português bom. Quanto ao cenário do rap nacional, depois que todos pararam de imitar os Racionais, a parada melhorou. Tem o Emicida (que foi para o Coachella), o Slim Rimografia, Mzuri Sana...Rap brzuca tá aí, cara.
ResponderExcluirQue nada cara. Seus posts são bem melhores.
ResponderExcluirEssa é a versão curta, já que a que eu perdi estava bem melhor. Eu ia até falar da minha teoria que foram os Racionais que popularizaram a combinação de uísque+red bull no Brasil.
O Mano Brown sabe sempre do que está falando. Não é apenas rima pela rima. Além de ter domínio do assunto, ele nunca vai rimar Pai com faz como o Liberdade Condicional fazia. Eu imagino que ele seja um cara culto. Tem que fazer tipo, claro, mas ele tem uma inteligência tão
espontânea assim. Ele estuda.
Tem muito tempo que nao acompanho o rap
nacional. O Emicida eu só vi um ou dois vídeos de batalhas de rimas. Esse tal Rimografia eu nunca havia ouvido falar. Vou dar uma chance. "Rap nacional é o terror" como dizia o DJ Jamaica.
Um cara que eu curto é o GOG, mas ele é muito chapa-branca do governo.