quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O que somos e o que queríamos ser




Em discussão bem-intencionada-porém-inócua promovida no blog do Nassif (não obstante eu goste muito do sítio, no geral), vários de seus leitores disseram ontem que uma das grandes razões do desenvolvimento dos EUA era a coesão de seus cidadãos em torno do seu mito fundador: os founding fathers, a luta pela independência etc etc etc, e que no Brasil nosso passado era motivo apenas de chacota (notadamente o famigerado Carlota Joaquina com o d. João VI bobalhão), faltando-nos um igualmente uma “mitologia” do porte da dos brothers do norte.

Eles não estão inteiramente errados. Deveras, narrativas fundacionais são importantes fatores de coesão social em escala nacional, onde símbolos precisam ser os mais abrangentes e abstratos possíveis para interpelarem os diversos estratos da sociedade. Eles se esquecem que, ao cantarem loas aos gringos e criticando a suposta falha brasileira, estão fazendo a mesma coisa que a Carla Camurati: usando a história/memória do Brasil para lucro pessoal, no caso, suas teses do nosso fracasso enquanto nação.

Pois não se pode esquecer que temos vários mitos fundadores em operação atualmente, e que sempre nos calam fundo em determinadas situações (no exterior, p.ex.): ou não somos (ou propagamos ser), o país do futebol, do carnaval, da feijoada, da lei de Gérson e da mulata? Por mais que nossos amigos do sul (nerds! hehehe) gostem de dizer que não se identificam com isso, estas características de uma forma ou de outra nos atingem. Por isso que hoje em dia o maior de nossos mitos fundadores é o do Brasil cadinho, a terra das misturas, da democracia racial e do sincretismo religioso. Demétrio Magnoli e Ali Kamel não me deixam mentir a força e a difusão que esses mitos continuam a ter (pois, para quem não sabe, um dos primeiros a defender esta tese foi o naturalista prussiano Von Martius).

Enfim, post para ventilar minha raiva dos admiradores incontestes/babacas dos EUA. Falando agora sobre minhas futuras contribuições ao blog, podem esperar mais do mesmo: um pseudo-intelectualismo gonzo, frenético e no mais das vezes incoerente, misto de Raoul Duke com Zygmunt Bauman. Num próximo post definirei o que entendo por pseudo-intelectual.


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