Terminei de ler ontem, depois de muuito tempo, Os Filhos da Meia-noite (pela nova reforma, com ou sem hífen?), de Salman Rushdie. Excelente leitura, mesmo o livro tendo 600 páginas. De imediato, algumas coisas me chamaram atenção: em primeiro lugar, a habilidade do autor em contar a história de Salim Sinai, menino-metáfora da Índia independente. Não consigo nem vislumbrar todo o trabalho de Rushdie deve ter tido para narrar os principais pontos do passado recente indiano "literariamente redondo", sem furos, com densidade; de forma que, um leitor menos atento (embora seja pouco provável, pois em todo momento o autor-personagem lembra a imbricação de sua biografia com a de seu país) ficaria entretido com uma texto primoroso de literatura fantástica.
Ontem fiquei com vontade de reler Cem anos de Solidão, do García Márquez, sobretudo porque achei os dois livros parecidos. Ambos fazem uso de uma narrativa implausível para contar a história de uma família que, no fim, é o próprio povo. A dialética está presente nas duas obras: passado e presente se confrontam para surgir o futuro. Tradição e modernidade lutam e, ao final, acabam por se unir, pois, para os dois autores, seus respectivos países só fazem sentido se os hábitos seculares sejam readaptados. Enfim, muita lingüiça pra dizer que os dois livros são fodas. Valem mesmo a leitura.
Do Rushdie eu li Fúria, um bom livro, mas não excepcional que trata de um ex-professor de História de Cambridge, que cria um boneco que acaba se tornando astro da televisão, o que provoca um problema ético e pessoal para ele. O livro se torna uma reflexão sobre a cultura da celebridade no mundo atual. Esses temas são bastante caros ao autor.
ResponderExcluirA associação com Cem Anos de Solidão parece interessante, se pensarmos nessa chave de uma reflexão sobre uma sociedade específica. Confesso que não fiz essa associação quando li Garcia-Marquez, entendendo o livro mais como uma alegoria sobre o tempo e sua praticamente eterna repetição, pela sucessão de membros com o mesmo nome na mesma família.
É uma boa associação feita pelo B.S. e que motivou a (re)leitura dos romances. Continue assim.